terça-feira, 17 de março de 2015

Quer escrever melhor? Faça um Post !

Quer escrever melhor? Faça um post

Foto: Thiago Lima / Revista Época

MARIA LUIZA ALMEIDA DE LIMA
16 anos
Estudante e presidente do grêmio estudantil
“Aproveito para treinar minha escrita no Facebook do grêmio. Desde que comecei a postar, minhas redações escolares melhoraram bastante”

Como as redes sociais estão estimulando a prática da escrita e se tornaram aliadas do bom texto

CAMILA GUIMARÃES
Maria Luiza Almeida de Lima estuda numa escola pública de ensino médio em Natal, no Rio Grande do Norte. Ela tem 16 anos e planeja prestar o Enem para a faculdade de Direito. Embora dedicada aos estudos, deixa os livros de lado para dar atenção aos amigos. Com eles, troca mais de 100 mensagens de celular por dia. Também faz atualizações diárias de seu perfil no Facebook. Fã do ídolo teen americano Justin Bieber, sua página na rede social é recheada de posts e comentários como este:




Malu tem uma causa que vai além de si mesma. Ela quer melhorar a escola (a mais antiga da cidade) para que ela e seus colegas tenham a melhor educação possível. Seu engajamento é inspirado na avó, que foi militante política quando jovem. Fala com orgulho da maior conquista do grêmio: uma reforma geral do prédio, que ruía com o descaso de mais de dez anos sem reparos. Malu foi a reuniões na prefeitura, fez pressão na Secretaria de Educação, entrou nas salas de aula para panfletar, organizou passeatas. Sobretudo, Malu escreveu. Ela é, desde 2013, a principal responsável pelas publicações do grêmio no Facebook, que tem mais de 1.300 seguidores. É ali que ela dá avisos corriqueiros, informa sobre campanhas de doação, critica e cobra a direção do colégio e mobiliza os estudantes para conquistas maiores. A linguagem usada por Malu nesses casos é bem diferente dos fru-frus ilegíveis de seu perfil pessoal. Um exemplo de texto postado por ela durante a (conturbada) reforma da escola:





“Galerinha, esta semana não haverá aula para ninguém novamente! A Direção informou que esses dias sem aula servirão para finalizar o gesso em todo o Colégio.
Obs.: Em breve postaremos as fotos do brinde-passeio para Pipa-RN, que ocorreu ontem. \õ/
Boa tarde!”


Eis um comentário dela sobre esse mesmo post:

“Irresponsabilidade! Sabemos que a obra é algo bom para o Atheneu. Todos querem o colégio bonito e reformado, porém somos nós alunos que pagamos pela falta de organização das gestoras e da secretaria de educação. Deveriam ter revezado as turmas ou encontrado outro espaço para termos nossas aulas. Ter aula no sábado é pouco. Com certeza teremos 6o horário e aulas nas férias também. E quem faz curso? Quem trabalha? E aí? Parabéns!”









“Como redatora do grêmio, preciso me expressar com clareza. Tanto nos avisos em sala de aula quanto pelo Facebook. Por mais que esteja conversando com jovens, escrevo de maneira um pouco mais formal, sem muitos emoticons ou abreviações. Minha escrita pode influenciar”, diz ela. “Aproveito também para treinar minha escrita. Desde que comecei a postar, minhas redações escolares melhoraram bastante.”

Malu é apenas um de vários exemplos de como a internet, contrariando o senso comum, pode ser aliada – e não a vilã – da boa escrita. Facebook, Twitter, WhatsApp e SMS, com seus textos curtos e superficiais, as abreviações inconsequentes, a ausência doída de um acento ou de uma vírgula, não afastaram a juventude da palavra escrita, como alguns gurus da internet e da educação acreditavam em meados de 2000. Na verdade, graças a eles, os jovens nunca foram tão dependentes da escrita para se comunicar – e nunca foi tão importante escrever bem. As redes sociais glamorizaram a palavra escrita entre os jovens, transformando quem se expressa bem em alvo da admiração alheia. Um texto irônico ou contundente no Facebook, assim como um tuíte espirituoso, pode atrair a atenção e conquistar seguidores. É um meio de ganhar prestígio e melhorar o status no grupo.

Escrever na internet se tornou prática natural, diária e até obrigatória. As estimativas apontam que a cada minuto os usuários do Twitter ao redor do mundo postam 300 mil vezes. São escritos 200 milhões de mensagens de e-mail. No Facebook, 2,5 milhões de posts são compartilhados e 510 comentários postados. Um estudo feito pela Universidade da Califórnia mostrou que a população americana lê 36% de todas as 100 mil palavras com as quais tem contato diariamente. Não existem estatísticas semelhantes para o Brasil, mas sabe-­se que há 89 milhões de usuários que usam o Facebook frequentemente no país. É o segundo maior número do mundo, depois dos 179 milhões de usuários nos Estados Unidos. No início de 2014, cerca de 40 milhões de brasileiros estavam no WhatsApp, quase 10% de todos os usuários do mundo. Se os brasileiros usarem as redes sociais de forma semelhante aos americanos – como se supõe que façam –, o hábito da escrita instalou-­se no centro de nossa vida social, e os resultados são positivos.

O estudo mais amplo sobre a influência da internet na escrita, feito pelo departamento de linguística da Universidade Stanford, nos EUA, comparou as redações dos calouros de 2005 a 2009 com as dos outros calouros da universidade desde 1917. O resultado sugere que somos nostálgicos em relação ao escrever bem. A taxa de erros gramaticais das redações se manteve constante durante as décadas. Mais: ao longo do tempo, elas se tornaram mais longas e mais complexas (temas como “Minhas férias” deram lugar para “O impacto da degradação ambiental na economia global”). A conclusão objetiva do estudo é que os estudantes atuais não escrevem pior que seus pais, avós e bisavós. Apenas escrevem de forma diferente. Os textos se tornaram mais informais, sem perder a clareza e a coesão.

Nunca se leu e escreveu tanto, duas práticas que, comprovadamente, ajudam a escrever melhor. Ainda assim, a escrita não é uma habilidade dominada pelos estudantes brasileiros. O desempenho dos candidatos que prestaram o Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, assustou. Mais de meio milhão (529 mil) tirou zero na redação. A maioria deles (217 mil) fugiu do tema proposto pela prova, talvez por não ter compreendido o que o enunciado pedia. O segundo maior erro (cometido por 13 mil) foi copiar o enunciado da prova em vez de discorrer sobre ele. Dos 6 milhões que fizeram o exame, apenas 250 tiraram a nota máxima. Isso equivale a 0,004% do total.

Escrever bem é tão indispensável socialmente quanto ler bem. Quando escrevemos, há mais áreas do cérebro mobilizadas do que quando lemos. O ato da escrita tem efeito direto no pensamento. Escrever ajuda a organizar o conhecimento e a esclarecer dúvidas. Nos permite fazer análises e divulgá-las. Quem lê e entende o que está lendo consegue captar ideias e conhecimentos do mundo, mas quem escreve com clareza vai além. É capaz de externar sua própria visão de mundo, opiniões e argumentos. A palavra escrita ou falada sempre foi uma forma de poder, porque supõe a capacidade de influenciar. Grandes oradores, como o inglês Winston Churchill e o americano Martin Luther King, mudaram o mundo a seu redor pela força das palavras. Agora, as redes sociais multiplicaram e democratizaram esse fenômeno. Deram uma plataforma global àqueles que são capazes de explicar e defender suas ideias com eloquência – escrevendo.
Suzana Vaz Hungaro - Coordenadora de Língua Portuguesa do Colégio Bandeirantes   -   “Os alunos não usam o mesmo estilo para tudo o que escrevem. Eles sabem a hora certa de usar cada linguagem, mesmo dentro da internet”















































É tentador culpar a internet pelo fracasso do aprendizado da escrita. Nas redes sociais escrevem-se textos curtos, que não seguem as regras da boa ortografia. Usam-se abreviações erradas, carinhas expressam emoções no lugar de palavras, desrespeitam-­se regras elementares de pontuação e acentuação. A informalidade e a coloquialidade mais banal são a regra. Por isso criou-se a impressão de que uma nova linguagem – e pior – estaria surgindo na internet. Ela contaminaria, deformaria ou substituiria a língua portuguesa. Mas não é isso que os estudiosos do assunto encontram. “Esse era o maior pesadelo dos professores de português há dez ou 15 anos, quando surgiu o Orkut”, afirma Francisca Barros, professora de redação do Colégio Ari de Sá, de Fortaleza, no Ceará. É a escola que melhor pontuou em redação no Enem. “Hoje, o internetês não causa mais medo.” Ela afirma que o risco de a escrita ser prejudicada pelas mensagens do Facebook – para quem foi bem alfabetizado e orientado em aulas de língua portuguesa – é mínimo.

A professora Karlene Rocha Campos, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Escola Superior de Engenharia e Gestão (Eseg), doutora em língua portuguesa, diz que esses temores podem ter origem na confusão sobre o que significa escrever bem. “Muitos acham que se trata apenas de usar a escrita formal ou a norma culta”, afirma. “Mas, se o texto é adequado ao contexto comunicativo, se a linguagem usada é adequada ao receptor da mensagem, a função da escrita foi cumprida.” O caso de Malu, a garota que abre esta reportagem, explica o argumento da professora. Ela abusa da linguagem cifrada em seu perfil pessoal, frequentado por amigos próximos, mas evita carinhas e abreviações quando escreve no perfil do grêmio escolar, que tem público mais amplo. “Os alunos sabem fazer esse julgamento”, diz Susana Vaz Húngaro, coordenadora de língua portuguesa do Colégio Bandeirantes, de São Paulo. “Não usam a mesma linguagem para tudo o que escrevem. Mesmo dentro da internet.” No Facebook escrevem de um jeito. No WhatsApp, de outro. Em e-mails trocados com professores, outro ainda. Num caso, preservam o idioma. No outro, o maltratam. Enquanto souberem a diferença, está tudo bem.

As boas notícias relativas à internet não mudam o fato de que os jovens brasileiros escrevem muito mal. Se a culpa não é da internet, então o problema recai, inevitavelmente, sobre a escola e a família. Sobretudo a escola. A baixa qualidade do ensino compromete a leitura, uma habilidade que antecede a escrita. Mas não basta ensinar qualquer leitura. O que faz falta é leitura crítica, interpretativa, que promove associação de ideias e gera raciocínio lógico. Isso se desenvolve com professores capazes de dar boas aulas de interpretação de texto. De acordo com a última prova do Pisa, o teste que mede o desempenho de alunos do ensino médio em 65 países, 49,2% dos alunos brasileiros não conseguem deduzir informações a partir de um texto. E não adianta culpar, de novo, a internet. O próprio Pisa comparou o desempenho dos alunos e concluiu que o hábito de ler na internet explica parte do aumento da nota de leitura dos brasileiros em 2009.

Ao tirar as redes sociais do papel de vilãs, algumas escolas passaram a tirar proveito delas no ensino. Nas redes mais fechadas, como o WhatsApp, onde geralmente as conversas envolvem apenas duas pessoas, as mensagens são cifradas e não têm tanta utilidade pedagógica. “Em outros meios, como o Facebook e os blogs, os estudantes precisam se fazer entender e se empenham para escrever direito”, diz a professora Susana, do Bandeirantes. Desde o ano passado, o colégio estimula a publicação de textos dos alunos no blog da escola. “Eles começaram timidamente, com poucas publicações. Hoje, temos uma fila de dois meses. São contos, crônicas, dissertações. O blog ajuda a praticar os diferentes gêneros da escrita”, diz ela.

Ana Carolina de Souza Nunes, de 17 anos, gosta de escrever, mas não gostava de mostrar seus textos. “Ficava insegura, com vergonha”, diz ela. Aos 8 anos, foi diagnosticada com dislexia. Escrever e ler nunca foram tarefas fáceis para ela. No ano passado, Ana Carolina começou um blog. “Sei que estou exposta e tomo muito cuidado com a revisão”, diz. “Aprendi a fazer assim também nas redações da escola.” Na redação do Enem, ela conseguiu 900. Pouco menos do máximo, que é 1.000. A confiança conquistada por Ana Carolina é essencial ao trabalho dos professores de redação. Elaine Silva, professora do ensino médio do Colégio Mary Ward, de São Paulo, diz que muitos alunos têm dificuldade em se expressar em sala de aula. Mas, quando o debate vai para o Facebook, eles perdem a timidez e se engajam. Elaine forma grupos de discussão no Facebook e faz com que os alunos treinem argumentação. “Meu papel é mediar: não deixo fugir do tema e nem usar o internetês”, diz ela. A possibilidade de compartilhar posts e indicar links com artigos, reportagens e vídeos ajuda a estimular a discussão e a melhorar o repertório dos estudantes. No final eles precisam escrever uma dissertação sobre o que aprenderam, resumindo tudo e dando suas opiniões.
O que as boas escolas tentam fazer é se apropriar da escrita praticada pelos jovens nas redes sociais, para ajudá-­los dentro da escola. As famílias podem fazer o mesmo. Sabe-se que pais leitores ajudam a desenvolver o gosto pela leitura. Praticarem juntos a escrita é um pouco mais complicado, mas pode perfeitamente ser feito. Quando Victor Castro, de Belo Horizonte, chegou aos 13 anos, disse ao pai que gostaria de ler  O senhor dos anéis, de Tolkien. Parecia uma leitura pesada. Seu pai, Antonio Carlos, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, combinou que leriam juntos. Para incentivá-lo a escrever, fazia parte do acordo preparar um resumo do que fora lido. Eles trocavam os resumos à noite. “Acho que isso o ajudou a sintetizar ideias no papel”, afirma Antonio Carlos. Victor agora tem 17 anos, é campeão pan-americano de caratê e tirou 900 na prova do Enem do ano passado. O apoio do pai com os livros foi importante, mas a prática da escrita nas redes sociais – igualmente estimulada pelo pai – teve papel fundamental. “Estimulo o Victor a usar o Facebook, é ali que estão as discussões mais atuais, que o ajudam a ser crítico. Fazemos discussões também pelo WhatsApp”, diz Antonio Carlos.

Famílias que conversam pelas redes sociais, escolas que exploram o potencial da rede para ensinar a escrever, adolescentes que alimentam blogs com textos cheios de convicção e informações – os sinais são evidentes. A internet, que está a nossa volta de forma inexorável, não pode mais ser vista como o inimigo. Tem de ser absorvida no cotidiano e explorada como um instrumento de aprendizagem da palavra escrita. As redes sociais não substituirão a escola ou a família como os locais privilegiados de formação de crianças e adolescentes. Mas, pela primeira vez em muitas décadas, os estudantes estão voluntariamente mergulhados num ambiente regido pela linguagem escrita, ávidos por participar e se expressar. Seria um enorme desperdício deixar de usar essa energia e as oportunidades que ela oferece.
Fonte: http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/03/quer-escrever-melhor-bfaca-um-postb.html


 


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Pesquisas.

Corrida de Sapinhos.

Era uma vez uma corrida de sapinhos. Eles tinham que subir uma grande torre e, atrás havia uma multidão, muita gente que vibrava com eles. Começou a competição. A multidão dizia: - Não vão conseguir, não vão conseguir!
Os sapinhos iam desistindo um a um, menos um deles que continuava subindo.
E a multidão continuava a aclamar: - Vocês não vão conseguir, vocês não vão conseguir. E os sapinhos iam desistindo, menos um, que subia tranquilo, sem esforços. Ao final da competição, todos os sapinhos desistiram, menos aquele.
Todos queriam saber o que aconteceu, e quando foram perguntar ao sapinho como ele conseguiu chegar até o fim, descobriram que ele era SURDO.